4 de março de 2011

Uno x Gol

Fiat Uno Vivace 1.0 EVO x VW Gol 1.0 Total Flex
Talvez você não tenha se dado conta, mas lá se vão 24 anos desde que as bolas de futebol deixaram de ser de couro. A primeira bola feita de material sintético, como as atuais, surgiu em 1986, na Copa do México. Mais antiga ainda é a rivalidade entre Fiat Uno e VW Gol. O Gol estreou em 1980 e o Uno, em 1984. De lá para cá, muita coisa mudou, tanto em campo como em nosso mercado. As pelotas, em preto e branco até 1998, ganharam cor a partir da Copa da França. Nas ruas, a concorrência entre os carros aumentou, a tecnologia sofisticou os projetos e agora, que a bola oficial da Copa da África tem até nome próprio (Jabulani), o lançamento do novo Uno se escala para peitar o Palio no lugar de capitão no time da Fiat, que no passado havia entrado em campo para substituí-lo.

O Uno chega num momento em que Fiat e VW disputam carro a carro a liderança do mercado. Até o início de maio, a Fiat tinha 22,71% de participação e a VW estava com 22,16%. Como Uno e Gol estão entre os mais vendidos do país, a briga entre eles pode definir quem ficará em primeiro no fim do ano.

Como não poderia deixar de ser, tanto a Fiat quanto a VW tiveram grande preocupação com o design de seus modelos. As duas apontam o visual como principal razão de compra, que também transmite valores como qualidade e modernidade, entre outros.

A Fiat partiu da forma quadrada do antigo Uno para fazer o novo, que ganhou um visual mais amigável, com cantos arredondados e detalhes lúdicos, como os faróis e os retrovisores quadrados, a falsa grade dianteira assimétrica e os adesivos aplicados à carroceria. A VW, que renovou o Gol em 2008, também manteve suas proporções originais, mas aplicou as linhas presentes nos novos modelos mundiais da marca. O vinco lateral, por exemplo, veio do Passat CC. E as lanternas traseiras conversam com modelos como Jetta Variant e Scirocco. O cuidado dedicado aos detalhes se nota em peças como o spoiler traseiro, que parece desenhado com um só movimento de pincel, e os retrovisores externos, com formato aerodinâmico.

Por dentro, os dois modelos são inteiramente novos. Mas, comparando os painéis, nota-se uma semelhança incomum entre veículos de marcas diferentes. Repare nas linhas básicas: a superior, que contorna as entradas de ar (redondas), a horizontal, que divide o painel ao meio, e a inferior, que tem uma depressão na altura do console. Outra coincidência: a disposição dos porta-objetos e os botões do ar-condicionado. No espaço interno, os dois também se equivalem, mas nesse quesito a semelhança é bem-vinda. Quatro pessoas conseguem viajar com relativo conforto nos dois carros. No porta-malas do Uno cabem entre 280 e 290 litros, dependendo da posição do encosto traseiro, e o do Gol leva 285 litros.

De série, Uno e Gol saem de fábrica apenas com o essencial. A maior diferença entre os dois está na qualidade do acabamento. A superioridade do VW é percebida pela observação das peças e também pela menor quantidade de ruídos vindos de painel, bancos, portas, cintos de segurança e para-sóis, entre outras partes.

Ao volante dos 1.0, o Gol lembra a seleção escalada por Dunga: correta, robusta, firme, previsível. Já o Uno parece a seleção escalada nas ruas, tão competente quanto a primeira, mas dada a jogadas de efeito, lances bonitos e mais jogo de cintura. Explico. O Gol tem a direção mais pesada, exige maior esforço nas manobras. Sua suspensão firme não tolera movimentos de rolling nas curvas e passa por buracos de forma tensa, quase dura. Por sua vez, o Uno é um carro fácil de dirigir. Sua direção é leve e a suspensão macia e confortável deixa a carroceria inclinar nas curvas – sem, contudo, comprometer a dirigibilidade, uma vez que, apoiado, o carro segue a trajetória obediente.

O Uno é mais divertido ao volante, sem dúvida. Mas o Gol se saiu melhor nos testes. Com o estilo foco-no-resultado do treinador brasileiro, o Gol acelerou de 0 a 100 km/h em 14,5 segundos e retomou de 60 a 100 km/h em 12,8 segundos, enquanto o Uno fez respectivamente 17,1 e 18,6 segundos. Nas provas de consumo, pode-se dizer que houve empate. O Gol conseguiu 8,7 km/l na cidade e 12 km/l na estrada. O Uno fez 8,4 e 11,5 km/l, respectivamente. Mas, de qualquer modo, como andou mais e gastou o mesmo, o Gol demonstrou ter um motor mais eficiente.

Na hora de contabilizar prós e contras, o Uno se destacou pela novidade de seu design ousado e pelo comportamento dinâmico. O Gol chamou atenção pela qualidade (apesar do histórico de recalls que essa geração coleciona) e pelo desempenho. O desempate ficou por conta dos preços, quesito em que a vantagem fica com o Uno. O Fiat básico é menos equipado, mas permite ao comprador equipá-lo com ar-condicionado e direção hidráulica, entre outros itens, com um investimento menor que o necessário para equipar o Gol. Como não costuma ser diferente nos clássicos, o equilíbrio marcou o confronto entre Gol e Uno. Entre jogadas inteligentes e bem ensaiadas de ambas as equipes, num jogo de poucas faltas, o Uno vence pela relação custo-benefício.



LINHA DO TEMPO

1980 Início da produção do Gol, equipado com o motor 1.3 a ar do Fusca, com 42 cv. Um ano depois, chega o motor 1.6.

1984 O Uno começa no Brasil, um ano após o lançamento mundial.
É lançado o esportivo GT, com motor 1.8 e 99 cv.

1987 Surge o esportivo 1.5R, com faixas nas laterais, tampa do porta-malas preto-fosco e cintos de segurança vermelhos.
Com a primeira reestilização, o Gol assume a liderança do mercado, condição mantida até hoje.

1988 O GTi, o primeiro automóvel brasileiro com injeção eletrônica, é apresentado no Salão do Automóvel.

1990 A Fiat lança o Mille, o primeiro a se beneficiar dos incentivos do governo aos “carros populares”.

1991 Nova reestilização, marcada pelo estreitamento da grade e dos faróis.

1992 É lançado o Gol 1000, resposta da VW ao Mille.

1994 Lançado o Uno Turbo. Um ano depois, a injeção eletrônica substitui o carburador no Mille.
Plataforma AB9 ou “Bolinha”. Chega a injeção eletrônica monoponto.

1999 Reestilização na linha, batizada pela VW como “Geração 3”.

2000 Chega o Gol 1.0 Turbo. No ano seguinte, supera a produção do Fusca, com 3,2 milhões de unidades.

2003 Total Flex, o primeiro motor bicombustível do país.

2004 O Uno atinge 2 milhões de unidades vendidas e recebe outra reestilização.

2005 Chega o motor bicombustível
Outra reestilização, batizada de “Geração 4”.

2006 É lançada a versão aventureira Way.

2008 Surge o Economy, equipado com econômetro e pneus com baixa resistência ao rolamento.
Enfim a nova plataforma (com motor transversal).

2010 Estreia o novo Uno (segunda geração).




GOL

DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
O acerto do chassi do Gol é um dos seus pontos altos.
★★★★

MOTOR E CÂMBIO
O motor leva bem o carro. Andou mais que o Uno. O câmbio tem engates precisos.
★★★★

CARROCERIA
O acabamento é simples, mas de boa qualidade no que se refere a materiais e manufatura.
★★★★

VIDA A BORDO
Apesar da robustez e da qualidade de acabamento, ele é pobre de equipamentos.
★★★

SEGURANÇA
O kit que contempla ABS e duplo airbag custa 2110 reais.
★★★

SEU BOLSO
Ele custa mais caro que o rival e as configurações de pacotes opcionais oferecidos pela fábrica forçam o comprador a gastar ainda mais.
★★★




UNO

DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
O Uno é divertido. A suspensão é macia, mas o conjunto, com freios eficientes, passa segurança.
★★★★

MOTOR E CÂMBIO
Apesar de ficar atrás do Gol na pista, o motor se defende bem. O câmbio é competente.
★★★

CARROCERIA
O design é bonito e moderno e o acabamento, de boa qualidade, mas inferior ao do Gol.
★★★

VIDA A BORDO
Ambiente agradável e posição de dirigir correta. O pacote básico de equipamentos é pobre, assim como o do rival.
★★★

SEGURANÇA
Por 2 300 reais, o comprador leva duplo airbag e freios ABS.
★★★

SEU BOLSO
Ele tem melhor relação custo-benefício e a fábrica deixa o consumidor mais livre para optar pelo conteúdo extra.
★★★★




NA REAL



Por 27 350 reais, o Uno Vivace 1.0 vem com indicador de consumo instantâneo, luz-espia de manutenção programada, banco traseiro rebatível, brake-light, Fiat Code, pneus 165/70 R13, tomada 12V e vidros verdes. Se quiser direção hidráulica, o consumidor pode optar por esse item à parte. Mas, para quem quer mais, o melhor é optar por um pacote. O Kit Celebration 5, igual ao do carro mostrado aqui, inclui direção, ar-condicionado, para-brisa degradê, desembaçador, limpador do vidro traseiro, faróis de neblina, vidros elétricos dianteiros, travas, calotas, preparação para som e pneus 175/65 R14. Tudo por 5 250 reais. Para pintar para-choques, maçanetas e retrovisores da cor da carroceria, o nome do kit é Young, ao preço de 280 reais. Até aqui, o carro já está custando 32 880 reais. Mas para ficar igualzinho ao das fotos faltam ainda o Kit Comfort (cintos dianteiros com ajuste de altura, abertura interna de porta-malas e tanque de combustível...), o Kit Casual (banco do motorista com ajuste de altura, porta-objetos tipo copinho...), Kit Square (adesivos nas portas, anéis na grade...) e, como opcional livre, CD player. O volante com ajuste de altura é o único item compulsório, solicitado com o Kit Comfort (soma 80 reais). E aí o preço chega a 34 140 reais.



MODULADO



O Gol segue a mesma cartilha. A versão básica, que custa 30 880 reais, na tabela, vem com faróis de parábolas simples, ajuste de altura para cintos dianteiros, ajuste de altura do banco do motorista, banco traseiro rebatível, imobilizador e pneus 175/70 R14. Para incluir ar-condicionado e direção hidráulica, o Módulo Kit III é o mais indicado. Ele é composto de vidros e travas elétricos, filtro de pólen e itens curiosos como amortecedores dianteiros, alternador trifásico 90 A e eixo traseiro reforçado. A VW diz que esses itens são necessários para o carro receber o ar-condicionado e a direção. O carro, óbvio, já vem com amortecedores, mas, no caso da instalação de novos itens que adicionam peso, os amortecedores precisam ser trocados. Para pintar retrovisores e maçanetas, Módulo Body (300 reais) que requer o Módulo Trend (faróis com dupla parábola, conta-giros, preparação para som, spoiler traseiro..., por 950 reais). E o Módulo Trend obriga a opção pelo Módulo Comfort I (alça no teto, cinto de segurança de três pontos nas laterais traseiras... por 180 reais). E assim o preço chega a 37 780 reais. A VW diz que fez esses pacotes baseada em pesquisas. Mas reconhece que talvez fosse melhor deixar o cliente escolher livremente.



VEREDICTO

Além de ser uma novidade, o Uno chega com design bonito e incomum e relação custo-benefício mais vantajosa que o Gol. O VW custa mais caro na versão básica e a diferença de preço em relação ao Uno aumenta à medida que o comprador opta por mais conteúdo. Na linha Fiat, o número de opcionais livres é maior.

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